Tiro no pé


Atual campeão da Fórmula 1, Jenson Button está fazendo tudo para valorizar seu “passe”. É notório que Ross Brawn, chefe da vitoriosa Brawn GP, não quer dar um aumento muito substancial para o inglês, talvez pela memória dos duros tempos do início do time, quando dinheiro era artigo de luxo, ou por, inconscientemente, achar que o carro e o trabalho do time foram até mais importantes que a pilotagem do piloto em 2009. O fato é que, sem Button, o dirigente ficará sem o número 1 em seus carros. Por isso, ele já ofereceu até liberdade para Button negociar espaços de publicidade em seu macacão em 2010.

Talvez tentando forçar uma decisão de Ross Brawn, Jenson Button visitou a sede da rival McLaren, em Woking, que também é equipada com os motores Mercedes, na sexta-feira passada. A equipe inglesa ainda tem uma vaga aberta, já que só manterá Lewis Hamilton em 2010. Heikki Kovalainen já foi jogado para escanteio – justamente, até pelo desempenho pífio que teve nas temporadas de 2008 e 2009. Isto pode signifcar que Kimi Raikkonen, recém-saído da Ferrari, virou segunda opção para o cockpit vago nos carros prateados. Button e Hamilton formariam o “english dream team”, a equipe dos sonhos dos torcedores ingleses (e da mídia do país). O retorno para todos os envolvidos no projeto, seja para os pilotos ou para o time, seria absurdamente bom.

Esportivamente, no entanto, Jenson Button sairia no prejuízo. O inglês chegaria em uma equipe que trabalha em torno de Lewis Hamilton, cria da casa e queridinho dos dirigentes do país. Fernando Alonso que o diga, sofreu com esta preferência na temporada 2007. Mas também me surpreenderia se Lewis e Anthony, seu pai, aceitassem a contratação de um piloto que pudesse ameaçar o campeão de 2008 na equipe. Até pouco tempo atrás, os dois trabalhavam para manter Kovalainen no time, que se revelou não ser uma ameaça ao inglês nas duas temporadas em que correram juntos. Um fator positivo para a McLaren bancar a vinda de Button seria ter o número 1 em seus carros.

No entanto, a vinda de Button pode servir para reparar um erro cometido no início de 2008. Na ocasião, Martin Whitmarsh, chefe da McLaren, liberou o fornecimento de motores da Mercedes – sócia do time inglês – para a Brawn GP. Essa autorização acabou dando condições para que a equipe novata fosse campeã de pilotos e construtores neste ano. A presença de Button serviria para manter a tradicional McLaren como o primeiro time da Mercedes, após a montadora alemã mostrar interesse em comprar uma parte da Brawn. No entanto, rumores dão conta de que a fábrica pode desistir da parceria, pois não influencia na decisão dos pilotos. E ela sempre quis um alemão em um dos cockpits. Apesar de ser o campeão, a vinda do inglês poderia ser um grande erro.

O fato é que Jenson Button pode estar perto de um erro crasso em sua carreira. O inglês perderia o status e piloto número um e passaria a dividí-lo com Hamilton na McLaren. Além disso, seria a prova de que Ross Brawn apostou no piloto errado para 2010, principalmente após os problemas de renovação e a alta pedida (justa, por sinal) de Button. Não seria bom para o inglês ser derrotado por um compatriota, o que diminuiria sua importância em seu próprio país. Ainda que seja a realização de um sonho, correr pela mais tradicional equipe inglesa no grid, Button pode estar prestes a dar um tiro no pé

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