Esperando pela tragédia

"Liberados" pelo poder público, vândalos que fizeram arruaça nas ruas do Recife estarão na Ilha do Retiro na quarta-feira
Todos os protagonistas das cenas de selvageria do pós-Clássico entre Sport e Santa Cruz da última quinta-feira estão impunes. Livres para, na próxima quarta-feira, irem novamente à Ilha do Retiro jogar pedras uns nos outros e em quem não tem nada a ver com a rixa deles. Livres para quebrar ônibus, carros, lojas. Transformar o Centro ou qualquer parte da cidade em território de guerra. Livres até que uma tragédia aconteça. A sensação de impunidade é tanta que você, leitor, certamente tem a impressão de já ter lido esse texto alguma vez. Mais de uma vez, aliás. E leu. Com outras palavras, mas que talvez fizessem referência aos mesmos personagens. Impunidade reconhecida até mesmo por aqueles que têm como missão trazer a segurança em dias como a última quinta-feira. Apenas dez pessoas foram detidas pelas cenas de selvageira registradas em pontos como Derby, Avenida Conde da Boa Vista e Cais de Santa Rita. Todas já foram liberadas. “A polícia fez várias detenções de grupos grandes, mas não há como conseguir elementos suficientes para conduzir todos eles para a delegacia. Muitas vezes as vítimas não se apresentam, com medo, ou fogem porque também estavam participando da baderna. Também não se pode pegar pessoas que estavam no meio do vandalismo e deduzir que elas fizeram parte daquilo, sem imagens ou provas. A maioria das pessoas que foram levadas à delegacia foram por desacato à autoridade, já que nesse caso o próprio policial é a vítima. Por tudo isso é natural que se passe a imagem de omissão”, afirmou o diretor do departamento de polícias integradas metropolitanas, coronel João Neto. “Todos que foram detidos já estão liberados. Eles assinam um TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência) e pagam penas alternativas. Fica muito barato. Infelizmente, a nossa legislação facilita essa sensação de impunidade”. Sem nenhuma punição prática, restaram, mais uma vez, promessas por parte das autoridades. O secretário de Defesa Social do estado, Alessandro Carvalho, afirmou que pretende se encontrar com representantes do Juizado do Torcedor e do Ministério Público para apontar quais são as melhores ações contra a violência. Teoria e pouca prática. “Hoje um torcedor comete um crime e em alguns casos é proibido de frequentar os estádios. Só que não há o controle”, reconheceu. Os vândalos agradecem. Números da impunidade 10 pessoas detidas e levadas para a central de plantões 1 vítima registrou ocorrência por ter o carro depredado 0 vândalo preso As cenas de selvageria promovidas pelas torcidas Jovem e Inferno Coral podem render, mais uma vez, punição a Sport e Santa Cruz. Ontem, o procurador do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Fábio Paiva, revelou que o órgão deve pedir a perda de mando de campo a rubro-negros e tricolores. Este ano, os dois times sofreram essa mesma punição, na Copa do Nordeste, também por conta de confusão envolvendo as uniformizadas.

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